sexta-feira, 19 de abril de 2013

ORIENTADOR EDUCACIONAL: ORIENTAR SEM SER DESORIENTADO

Francisco Carlos de Mattos*
O que ele faz? *Contribui para o desenvolvimento do aluno *Ajuda a escola a organizar e realizar a proposta pedagógica *Trabalha em parceria com o professor para compreender o comportamento dos alunos e agir de maneira adequada em relação a eles *Ouve, dialoga e dá orientações.
Segundo a percepção tradicionalista da educação o aluno deve seguir o paradigma de homem delineado pela sociedade, para o seu devido e querido enquadramento nela. Nesta linha de reflexão, de querença, supõe-se que ela tenha um norteamento dado pelas forças políticas então vigentes no país. Se nos detivermos num dado recorte histórico no Brasil, veremos que a linha de ação para a gestão pública, é, arraigadamente, neoliberal; portanto, o direcionamento para a ação do OE na escola, junto aos alunos e à família, tem que ser por este caminho. Para esta sociedade, cidadão bom é cidadão consumista, que se enquadra às nuances do mercado, pouco ou nada questionador, que se conforma com as coisas como se fossem profundamente normais. Para esse nível de cidadão, um aluno educado para tal. O que não questiona, o 'quietinho', o conformista, o que aceita tudo calado. O que entende que o que está posto, está posto e não se pode questionar. Fato social ¹ é fato social. Sempre foi assim, afirmam alguns profissionais da educação e entre esses, pasmem, Orientadores Educacionais. Exemplo mais recente se deu numa reunião mensal desses profissionais no município onde, há 23 anos, exerço esta função, quando da apresentação dos objetivos da Divisão que vai coordenar esses profissionais numa nova administração pública. Num momento tenso em dado momento, esbravejei, a pleno pulmões, que não me permitiria ser posto numa forma, ser enquadrado para cumprir ordens desconexas, ilógicas, que fossem totalmente contra os meus princípios profissionais. Ausentei-me da reunião. Durante a semana, falaram-me que um dos colegas comentara após a minha saída, que a atitude manifestada por mim havia sido um absurdo. Que ordens são ordens e não se pode questionar. Nego-me a tentar compreender esta postura. Esta ação educativa, orientadora, apresenta uma tendência psicologista e uma perspectiva terapêutica junto aos alunos, no sentido mesmo de "por em prática os meios adequados para aliviar ou curar" ² os alunos que apresentam, na visão da escola, desvios comportamentais, os que não, agora num panorama de panóptico foucautiano, se enquadrem no sistema. Tais desvios de comportamento são, hoje, vistos como multifacetados, pois não se restringem somente às questões sociais ou sócio-educativas no que se referem às atitudes de civilidade, urbanidade diante do outro, no que tange à expectativa da convivência pacífica entre as pessoas. O que se percebe é que os problemas se multiplicam, se metamorfoseiam com o passar dos tempos. Ontem o Orientador Educacional ocupava-se dos problemas de cunho, exclusivamente, comportamentais, no sentido de orientar os alunos para os reais objetivos de aprender, da construção de conhecimentos. Agora percebe-se que não existe a ideia de 'copo meio cheio' e de que o sentido comportamental também passa por questões relacionadas à orientação sexual e identidade de gêneros, a problemas ligados a conflito de gerações, à ingestão de álcool e outras drogas, à insegurança sobre o futuro, que traz a reboque a revolta com tudo e todos. O adolescente, com raríssimas exceções, vez ou outra, mostra-se um tanto quanto mal humorado. Com todas as razões. Levando-se em consideração o que se apresenta enquanto argumentos, pode-se deduzir que este volume de problemas é crescente, face as mudanças no contexto maior. Sendo a escola uma instituição que ainda tem como um dos seus objetivos, dentro dessa enxurrada de problemas que se vê envolvida, a educação, no sentido análogo a "desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais do ser humano" ³, não pode ser cerceadora, intransigente, antidemocrática, autoritária, preconceituosa. Já que temos como proposta de trabalho ORIENTAR alunos a buscar o seu próprio caminho, não podemos ser desorientados. *Orientador Educacional da Rede Pública Municipal de Cabo frio. Mestre em Educação pela UERJ. ¹. O fato social,segundo Durkheim, consiste em maneiras de agir, de pensar e de sentir que exercem poder de coerção sobre o indivíduo. ². Dic. Michaelis. Melhoramentos Soft da Língua Portuguesa. Suporte ao Dic. Michaelis. UOL. ³. Idem. Quer saber mais sobre o Orientador Educacional? Escola da Vila, Unidade Butantã, Rua Barroso Neto, 91, CEP 05595-010, São Paulo, SP, Tel (0....11)37263578. BIBLIOGRAFIA Ação Integrada – Administração, Supervisão e Orientação Educacional, Heloísa Luck, 66 pags. Ed. Vozes. A Orientação Educacional – Conflito de Paradigmas e Alternativas para a Escola, Miriam Paura S. Zippin Grinspun. 176 pags, Ed. Cortez.

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